domingo, 20 de dezembro de 2009

História da Escola da Quinta de Sant’Ana – Externato

A freguesia de Machico[1] tem uma extensão de uns seis quilómetros, por uns três de largura decorre na direcção norte – sul, entre duas cordilheiras. A do Leste forma a Rocha do Larano, onde se abre a porta do Risco que dá entrada para a freguesia do Porto da Cruz; ergue os Picos do Castelo e do Facho; passa pelo Caniçal; entra pelo mar dentro e confina na Ponta de S. Lourenço. A cordilheira do Oeste separa Machico das freguesias do Santo da Serra e de Água de Pena. Destas cordilheiras brotam as águas que fazem nascer os produtos da terra, crescer árvores e outras espécies de arbustos e vegetais que alimentam o homem e dão beleza rara à natureza.[2]
A 8 de Maio 1440[3], o Infante D. Henrique, Donatário da Madeira, Duque de Beja e Grão-mestre da Ordem de Cristo, confirmou a capitania de Machico a Tristão Vaz Teixeira, seu escudeiro[4]. Nos princípios da década de 1450, o povoado de Machico foi elevado a Vila.
A 15 de Março de 1477, foi criada a Alfandega de Machico, para regular o comércio do açúcar, a fim de usufruir os direitos fiscais.
A 4 de Setembro de 1479, Portugal fuma com Castela o Tratado de Alcáçovas ficando, definitivamente, as Ilhas do norte do arquipélago das Afortunadas (Madeira, Porto Santo e Desertas) para Portugal.
A construção da igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição é do final do século XV, foi levantada, com dádivas de D. Manuel I, o Venturoso, que entre outras ofertas lhe doou as colunas de mármore que estão na porta lateral, a imagem flamenga da Senhora da Conceição, o órgão e o sino. Em 1450, foi fundada a paróquia da matriz, (estendia-se desde a Ponta da Oliveira, no Caniçal, até à Ponta do Tristão, Porto Moniz) sendo seu primeiro Vigário, Frei João Garcia, da Ordem de Cristo (exercia jurisdição paroquial em toda a Capitania[5].
Em 1499, D. Manuel I distinguiu o senado da Vila de Machico, com um valioso jogo de pesos-padrões. No final do século XV, concedeu-lhe, para símbolo do seu brasão, o emblema do seu próprio escudo de armas "a esfera armilar".
Em 1692[6] foi construído o Solar de S. Cristóvão[7], situado no sítio do Caramanchão, onde se avista toda a freguesia de Machico, pelo Morgado Cristóvão Moniz de Menezes, cognominado o Grande, pela sua grande estatura e também pelos seus avultados bens materiais. Na capela do Solar[8], existe um quadro anónimo, representando S. Cristóvão, com o Menino Jesus aos ombros, e na margem do rio, aos pés do Santo, encontra-se toda a família do Morgado[9] de joelhos e de mãos postas em oração.
As cantarias das portas e janelas do prédio foram, na construção primitiva, de cantaria mole, vermelho-amarelada, que o tempo desgastou, e após 300 anos de intempéries fizeram-nas quase desaparecer.
Em 1987, a Secretaria Regional de Turismo e Cultura começou a restaurar o Solar[10]. Hoje, ali funciona a "Casa do Artista", onde se desenvolvem acções ao serviço da cultura.[11]
Nos primeiros anos do século XX, a Morgada Júlia Bettencourt, filha do Morgado Cristóvão e esposa do fidalgo Carlos Bettencourt, cedeu por empréstimo o solar de S. Cristóvão, ao Vigário de Machico, P. Jacinto da Conceição Nunes, para actividades da paróquia. Este sacerdote sentindo a necessidade de uma escola para o seu povo, pediu a D. Manuel Agostinho Barreto, Bispo do Funchal, que se dignasse enviar Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, para estabelecerem uma escola de S. Francisco de Sales em Machico[12]. A 8 de Setembro de 1904, na Quinta de S. Cristóvão, a Irmã Wilson presidiu à fundação de uma Escola de S. Francisco de Sales.
As Irmãs dedicaram-se à coeducação no Ensino Primário e à Catequese. A frequência à escola foi numerosa o que impossibilitava as Irmãs de fazerem outro trabalho por falta de tempo.
Na Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910, as Irmãs foram obrigadas a encerrar a Escola, leiloando os objectos mais valiosos da Congregação a muito baixo preço. As crianças ficaram sem as suas professoras e Machico teve de esperar duas décadas para que as Irmãs voltassem à escola. Na clandestinidade a escola continuou...

Reabertura da Escola de Machico

Em 1925, a Congregação comprou a Quinta de Sant'Ana[13] no sítio da Terça em Machico a José Jerónimo Gomes Figueira, com a finalidade de ali reabrir a Escola de S. Francisco de Sales encerrada em 1910, a pedido do pároco de Machico, P. António Nicolau Fernandes, para evitar que os protestantes a adquirissem e ali fundassem um centro escolar, difundindo a sua doutrina.
Em 1927, a Escola de Machico reabriu, as Irmãs ministravam o Ensino Primário, davam catequese e educavam meninas num pequeno internato.
Os alunos afluíram à Escola e em cada ano que passava o número aumentava, iam a exame e ficavam aprovados.
A Escola de Sant'Ana até ao início da década de 1940, mantinha-se com 150$00 mensais, provenientes da Associação de S. Francisco de Sales. A Comissão da Junta Geral, tendo em conta o § 1 do artigo 24.º do Código Administrativo das Juntas Gerais nas ilhas adjacentes que deliberava sobre criação, manutenção e supressão de escolas primárias e postos escolares concedeu à escola mensalmente uma verba de 500$00 e outros subsídios para material escolar. Em cada ano dava uma importância tendo em conta o número de alunos que transitavam de classe.
A 1 de Outubro de 1940, a Escola de S. Francisco de Sales – Machico foi legalizada, nos termos do § 2°, artigo 82.º, do Decreto-Lei n.º 23 447, de 5 de Maio de 1934. Nesta altura era proibida a coeducação. Em 1952, para resolver esta situação, foram pedidos ao Ministério Nacional da Educação, dois alvarás, um para a Escola Masculina "S. Joaquim" e outro para a Escola Feminina "Sant’Ana"[14]. Muitas alunas da Escola se consagraram ao Senhor e alguns dos seus alunos foram sacerdotes, José da Ressurreição Viveiros, António José de Freitas, Manuel Romão Roque de Aveiro e José Clemente dos Santos, SDB.
Em 1970, a Comissão da Assistência concedeu um subsídio para financiar os lanches dos alunos.
A 14 de Agosto de 1974, a Secretaria de Educação e Cultura averbou no alvará da Escola n.º 1285, a coeducação, o funcionamento em regime de desdobramento e uma lotação de 122 alunos. As escolas S. Joaquim e de Sant’Ana fundem-se sob a designação de Escola de Sant’Ana. A 18 de Setembro de 1975, por despacho do Inspector-geral do Ensino Particular foi concedido à Escola o Ensino Infantil que começou a funcionar a 8 de Outubro desse mesmo ano. Em 1979, a Secretaria Regional de Educação concede-lhe o Paralelismo Pedagógico, dando aos docentes possibilidades de avaliar os seus alunos.
No ano lectivo de 2003/2004, a Escola começou a funcionar a tempo inteiro. Hoje, forma uma comunidade educativa com 73 alunos, 12 professores, 2 educadoras, 5 auxiliares de educação e todos os encarregados de educação. Além do cumprimento dos programas, os alunos têm Actividades de Enriquecimento Curricular (Expressão Musical e Dramática, Expressão e Educação Físico/Motora, Apoio Psicopedagógico, Inglês, Formação Cívica, Biblioteca, Videoteca, Informática, Natação e alguns Clubes).

In MENESES, Maria José de, 1.º Centenário, Escola Sant’Ana – Externato, Machico, Dezembro de 2004


[1] Há notícia de um marinheiro de nome Machico, mestre das barcas de EI-Rei D. Fernando I de Portugal. Este marinheiro serio o piloto da caravela que apartou à primeira baía encontrada na Madeira, em recompensa deram o nome à localidade. Esta hipótese vem anular as teses que derivam o nome de Machico de Machim ou de Monchique. (Manuel Rufino Teixeira in "Um Olhar pelos primórdios da Capitania de Machico e das mas gentes, Machico, 2004, p. 19).
[2] MARTINS, Lino Bemardo Calaça, Machico, a sua historio e a ma gente, Machico, Setembro de 1978
[3] Carta de Doação
[4] Serviu o Reino em Ceuta, onde o Infante D. Henrique o armou cavaleiro; era natural do Algarve, casou com Branca Teixeira da casa de Vila Real.
[5] P. Fernando Augusto da Silva e Carlos Azevedo, Elucidário Madeirense, edição DRAC, Funchal, 1984, 2° voI., p. 294.
[6] Data que se encontra gravada na porta da capela
[7] A casa do Solar é uma forte construção cor-de-rosa, cor característica do solar madeirense, de paredes de pedra e cal. Dá acesso à sala de entrada uma escada de pedra encimada por um alpendre de telhas à antiga portuguesa. O parque é sombreado, por seis celtis-australis, vulgarmente chamados ginginhas do rei ou paus-ferros, árvores, actualmente muito raras na Madeira.
[8] A capela do Solar foi edificada em virtude de disposição testamentária do Morgado, Cristóvão Moniz de Menezes, feita em 1690, determinando a sua construção. (Elucidário Madeirense, Fac – Símile da Edição de 1946, III Volume O – Z)
[9] A família era constituída pelo Morgado, Cristóvão Moniz de Menezes, sua mulher, D. Maria da Guerra, seu filho primogénito António Moniz de Menezes e a sua esposa, D. Francisca da Câmara Agrela Lomelino, os outros filhos do morgado, da esquerda para a direita, P. Francisco Moniz de Menezes, Frei Pedro do Espírito Santo, o Cónego Luís de Menezes, Irmã Antónia Moniz Menezes, clarissa do Convento de Santa Clara do Funchal e a neta do morgado ainda criança, Francisca Xavier Moniz de Menezes.
[10] CRISTOVÃO, Carlos, No Vale de Machico, S/L, 1966, p. 80
[11] Solar São Cristóvão, Casa do Artista, Região Autónoma da Madeira, Secretaria Regional do Turismo e Cultura.
[12] S/A, Breve Resumo das Comunidades, s/a
[13] A Congregação até à compra da Quinta de Sant'Ana em 1925, não possuía casa no Funchal, nem em nenhuma outra parte. A Irmã Elisabeth de Sá muitas vezes para conversar com as Irmãs que vinham ao Funchal ouvia-as no Jardim Municipal ou na garagem das camionetas que saiam do Funchal, para as freguesias. Juntou algumas economias para a compra de uma casa no Funchal, mas essa verba foi empregue, a pedido de D. António Manuel Pereira Ribeiro, Bispo do Funchal, na aquisição da casa de Machico porque estava eminente a sua compra pelos protestantes. Só foi possível comprar a Quinta das Rosas em 1928.
[14] Ministério da Educação Nacional, Autorização Provisória, 30.05.1952

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